O Futuro Musical
Dessa vez a minha musa inspiradora (lá ele) foi meu mano Marcelo. Estavamos falando sobre música e comecei a tentar criar uma figura do cenário atual.
Marcelo tem uma opinião sobre a indústria musical atual que eu respeito muito. Segundo ele, a cultura digital contemporânea provocou uma banalização da música em dois sentidos. Primeiro porque com a pirataria (e a transferência de arquivos pela net) ninguém mais compra CD, o preço dos CDs aumentam e menos gente ainda compra. Os artistas (e as gravadoras) não estão mais lucrando com a música, e, assim, com menos estímulo para o trabalho, a qualidade da música tem caído. Segundo, a internet permite que todo mundo tenha acesso a virtualmente toda a música que existe. As pessoas baixam mais músicas do que podem escutar, colocam 40 gigabytes de música no seu ipod e quando uma música repete uma vez, a pessoa já enjoou dela. Resultado, a apreciação musical está deixando de existir da maneira como nós a concebemos. A projeção é que a música vai reduzir de qualidade, porque as pessoas não sabem mais discernir o que é bom do que não é, e porque há tanta música disponível que um bom artista nunca vai ter a possibilidade de ter o seu valor realmente reconhecido, dado o ruído tremendo representado pelo volume de artistas. (Deixo logo claro que não sou do tipo relativista que acha que não há música boa ou ruim, que é tudo relativo. É como em livro. Vai dizer que Platão não é melhor que Dan Brown! Por favor! Não que o Dandan não seja bom também...)
Todo esse cenário faz muito sentido, e daí eu comecei extrapolar a projeção e a questionar se será assim pra sempre, ou seja, será que vamos piorar a qualidade da música indefinidamente até perdermos o interesse por ela? Ou será que essa crise reflete uma conjuntura, um momento, apenas, algo passageiro?
Não acredito que a música vai acabar, nem acho que ninguém que esteja falando sério considere essa possibilidade. A música está aí tal qual a ciência, a religião e o esporte estão para a nossa cultura. São pedaços inerentes, que não podem ser retirados. Cultura sem música é coisa que não faz sentido.
Então vamos analisar historicamente (em ordem de grandeza) a evolução da música em função da técnica traçando um paralelo com a linguagem escrita. O surgimento da linguagem escrita fez a humanidade dar um salto gigantesco em termos de complexidade intelectual e tecnológica. Pensamentos podiam ser passados de geração a geração mais eficientemente e em mais volume. Surge uma mistura cultural violenta, pois um conhecimento escrito novo poderia transitar entre comunidades, alterando totalmente o seu fluxo corrente. No entanto, houve um explosão de novas coisas disponíveis. Centenas de milhares de livros pra escolher, capacidade para ler apenas mil numa vida. Como fazer a escolha? Como determinar quais são os bons livros? Em seguida surge a imprensa e depois a internet. A situação se torna crítica. A quantidade de informação disponível cresce exponencialmente. Será possível nessa confusão toda, encontrar alguma coisa que preste?
Com a música é possível fazer a analogia (se vc conseguir contornar o incômodo que causa olhar as coisas de forma tão generalizada). A música pôde ser escrita no passado, assim como os pensamentos puderam ser escritos, mas hoje a música pode ser gravada, e mais, ela pode ser transferida igual a um livro, ou uma página de internet; e ela também cresce em volume exponencialmente. Essa é a banalização de que falamos antes, e é a mesma que há na literatura e filosofia, em que a impressão que dá é que não sai nenhum livro novo realmente bom (dos 4500 novos por dia) e que, no máximo, dado o marketing, o público converge para o Código Davinci.
Mas porque será que não aparece mais nenhum artista novo bom? Porque a impressão que dá é que a música tem caído de qualidade?
A minha opinião é que a música representa um momento, representa a cultura vigente e fortalece, unifica e desenvolve essa cultura (é isso o que define pra mim a música boa). Portanto, no Brasil, por exemplo, pode aparecer uma novidade, algo realmente original que representa localmente o momento. Mas o problema é que tudo novo que surge é rapidamente diluído na massa de opções existente. Na verdade, não é uma questão de novos artistas bons surgirem, o problema é que eles concorrem com o mundo todo, eles podem representar algo muito bem no local de origem, mas não pode expandir além dessa fronteira. Para crescer e se expandir a música hoje precisa ser universal, e nada mais. A música deve usar uma linguagem acessível a todas as outras culturas, algo em comum que se aplica ao Brasil, aos Estados Unidos, à França e ao Líbano!
Vou fazer outra analogia - segundo os profetas do passado, Aristo e Schop, essa é a maneira ideal de criar compreensão. A ciência hoje vive exatamente o mesmo momento da música. Ela é agora universal. Segundo o cenário vigente, não existe mais diferença entre o que é química, física, matemática, computação e biologia. A conciliência entre as ciências idealizada por Edward Wilson (o wilsinho), veio mais rápido do que ele imaginava, e não através das ciências físicas, como ele previu, mas pelas ciências biológicas. A biologia sugou tudo, ela é o centro da rede, o nó que conecta todos os outros ramos da ciência. Aquele que não enxerga isso e insiste na divisão discreta do conhecimento vive no passado e não atua mais na realidade. Isso não quer dizer que física e química vão deixar de existir, mas que essas áreas vão trabalhar numa sinergia jamais vista antes; todos os lados vão ganhar muito!
A música precisa, então, dessa linguagem universal que vai criar o vínculo definitivo (força de expressão) entre as culturas. Essa linguagem está se desenvolvendo, isso toma tempo, e é por isso que estamos nesse momento de depressão. Aliás, se eu estiver certo (e aqui sou apoiado pelo profeta contemporâneo russo Djalmevski), essa linguagem já está aí, já tá atuando hoje. É o hip-hop.
O hip hop e o rap estão aí pra todo mundo ver. É uma linguagem moderna que fala de internet, de ciência, de computação, de política e tudo num contexto universal. É ouvido e usado no Brasil, no Japão e no Líbano (dá uma olhada no que os caras ouvem por lá). Aceitação da favela ao riquinho. O hip hop tem uma capacidade única de absorver influências. Cada cultura faz a sua parte, adiciona novos elementos e a música cresce, se torna boa e acessível ao mundo. Hip Hop com samba (D2 e companhia), Hip Hop com música latina (Orishas e uma dezena), Hip Hop com música oriental (mais uma caralhada), e Hip Hop com Jazz, Rock, Soul, Reggae com tudo (dá uma olhada no Jurassic 5, no Outkast). A música tá amadurecendo e se tornando boa, não é uma salada de fruta. Repare que mais uma vez isso não significa que a diversidade vai acabar, que o mundo todo vai virar um mingau uniforme. A estrutura da rede é radial, com o hiphop no centro dela, fazendo o meio de campo. Existe um intermédio entre China e Europa. Essas culturas vão crescer localmente, porque elas possuem o seu lado de isolamento, o seu momento local que se difere do global. A cultura global, tão pobre atualmente, vai crescer num impulso, trazendo cada cultura local junto com ela, estas vão se diversificar e se tornarem novas. Não vai ser o Japão americanizado, mas a nova cultura Japonesa.
Pra terminar vai uma fotinho dos J5, porque fazem hip hop de qualidade. O album novo dos caras, feedback, é o bicho! Não me pergunte porque tem 6 aí.

Marcelo tem uma opinião sobre a indústria musical atual que eu respeito muito. Segundo ele, a cultura digital contemporânea provocou uma banalização da música em dois sentidos. Primeiro porque com a pirataria (e a transferência de arquivos pela net) ninguém mais compra CD, o preço dos CDs aumentam e menos gente ainda compra. Os artistas (e as gravadoras) não estão mais lucrando com a música, e, assim, com menos estímulo para o trabalho, a qualidade da música tem caído. Segundo, a internet permite que todo mundo tenha acesso a virtualmente toda a música que existe. As pessoas baixam mais músicas do que podem escutar, colocam 40 gigabytes de música no seu ipod e quando uma música repete uma vez, a pessoa já enjoou dela. Resultado, a apreciação musical está deixando de existir da maneira como nós a concebemos. A projeção é que a música vai reduzir de qualidade, porque as pessoas não sabem mais discernir o que é bom do que não é, e porque há tanta música disponível que um bom artista nunca vai ter a possibilidade de ter o seu valor realmente reconhecido, dado o ruído tremendo representado pelo volume de artistas. (Deixo logo claro que não sou do tipo relativista que acha que não há música boa ou ruim, que é tudo relativo. É como em livro. Vai dizer que Platão não é melhor que Dan Brown! Por favor! Não que o Dandan não seja bom também...)
Todo esse cenário faz muito sentido, e daí eu comecei extrapolar a projeção e a questionar se será assim pra sempre, ou seja, será que vamos piorar a qualidade da música indefinidamente até perdermos o interesse por ela? Ou será que essa crise reflete uma conjuntura, um momento, apenas, algo passageiro?
Não acredito que a música vai acabar, nem acho que ninguém que esteja falando sério considere essa possibilidade. A música está aí tal qual a ciência, a religião e o esporte estão para a nossa cultura. São pedaços inerentes, que não podem ser retirados. Cultura sem música é coisa que não faz sentido.
Então vamos analisar historicamente (em ordem de grandeza) a evolução da música em função da técnica traçando um paralelo com a linguagem escrita. O surgimento da linguagem escrita fez a humanidade dar um salto gigantesco em termos de complexidade intelectual e tecnológica. Pensamentos podiam ser passados de geração a geração mais eficientemente e em mais volume. Surge uma mistura cultural violenta, pois um conhecimento escrito novo poderia transitar entre comunidades, alterando totalmente o seu fluxo corrente. No entanto, houve um explosão de novas coisas disponíveis. Centenas de milhares de livros pra escolher, capacidade para ler apenas mil numa vida. Como fazer a escolha? Como determinar quais são os bons livros? Em seguida surge a imprensa e depois a internet. A situação se torna crítica. A quantidade de informação disponível cresce exponencialmente. Será possível nessa confusão toda, encontrar alguma coisa que preste?
Com a música é possível fazer a analogia (se vc conseguir contornar o incômodo que causa olhar as coisas de forma tão generalizada). A música pôde ser escrita no passado, assim como os pensamentos puderam ser escritos, mas hoje a música pode ser gravada, e mais, ela pode ser transferida igual a um livro, ou uma página de internet; e ela também cresce em volume exponencialmente. Essa é a banalização de que falamos antes, e é a mesma que há na literatura e filosofia, em que a impressão que dá é que não sai nenhum livro novo realmente bom (dos 4500 novos por dia) e que, no máximo, dado o marketing, o público converge para o Código Davinci.
Mas porque será que não aparece mais nenhum artista novo bom? Porque a impressão que dá é que a música tem caído de qualidade?
A minha opinião é que a música representa um momento, representa a cultura vigente e fortalece, unifica e desenvolve essa cultura (é isso o que define pra mim a música boa). Portanto, no Brasil, por exemplo, pode aparecer uma novidade, algo realmente original que representa localmente o momento. Mas o problema é que tudo novo que surge é rapidamente diluído na massa de opções existente. Na verdade, não é uma questão de novos artistas bons surgirem, o problema é que eles concorrem com o mundo todo, eles podem representar algo muito bem no local de origem, mas não pode expandir além dessa fronteira. Para crescer e se expandir a música hoje precisa ser universal, e nada mais. A música deve usar uma linguagem acessível a todas as outras culturas, algo em comum que se aplica ao Brasil, aos Estados Unidos, à França e ao Líbano!
Vou fazer outra analogia - segundo os profetas do passado, Aristo e Schop, essa é a maneira ideal de criar compreensão. A ciência hoje vive exatamente o mesmo momento da música. Ela é agora universal. Segundo o cenário vigente, não existe mais diferença entre o que é química, física, matemática, computação e biologia. A conciliência entre as ciências idealizada por Edward Wilson (o wilsinho), veio mais rápido do que ele imaginava, e não através das ciências físicas, como ele previu, mas pelas ciências biológicas. A biologia sugou tudo, ela é o centro da rede, o nó que conecta todos os outros ramos da ciência. Aquele que não enxerga isso e insiste na divisão discreta do conhecimento vive no passado e não atua mais na realidade. Isso não quer dizer que física e química vão deixar de existir, mas que essas áreas vão trabalhar numa sinergia jamais vista antes; todos os lados vão ganhar muito!
A música precisa, então, dessa linguagem universal que vai criar o vínculo definitivo (força de expressão) entre as culturas. Essa linguagem está se desenvolvendo, isso toma tempo, e é por isso que estamos nesse momento de depressão. Aliás, se eu estiver certo (e aqui sou apoiado pelo profeta contemporâneo russo Djalmevski), essa linguagem já está aí, já tá atuando hoje. É o hip-hop.
O hip hop e o rap estão aí pra todo mundo ver. É uma linguagem moderna que fala de internet, de ciência, de computação, de política e tudo num contexto universal. É ouvido e usado no Brasil, no Japão e no Líbano (dá uma olhada no que os caras ouvem por lá). Aceitação da favela ao riquinho. O hip hop tem uma capacidade única de absorver influências. Cada cultura faz a sua parte, adiciona novos elementos e a música cresce, se torna boa e acessível ao mundo. Hip Hop com samba (D2 e companhia), Hip Hop com música latina (Orishas e uma dezena), Hip Hop com música oriental (mais uma caralhada), e Hip Hop com Jazz, Rock, Soul, Reggae com tudo (dá uma olhada no Jurassic 5, no Outkast). A música tá amadurecendo e se tornando boa, não é uma salada de fruta. Repare que mais uma vez isso não significa que a diversidade vai acabar, que o mundo todo vai virar um mingau uniforme. A estrutura da rede é radial, com o hiphop no centro dela, fazendo o meio de campo. Existe um intermédio entre China e Europa. Essas culturas vão crescer localmente, porque elas possuem o seu lado de isolamento, o seu momento local que se difere do global. A cultura global, tão pobre atualmente, vai crescer num impulso, trazendo cada cultura local junto com ela, estas vão se diversificar e se tornarem novas. Não vai ser o Japão americanizado, mas a nova cultura Japonesa.
Pra terminar vai uma fotinho dos J5, porque fazem hip hop de qualidade. O album novo dos caras, feedback, é o bicho! Não me pergunte porque tem 6 aí.
